Jogo: Ultima VII Part 1 - The Black Gate

Se tem um jogo que consiga superar tudo o que o Ultima VI já tinha feito de excelente, esse jogo é a própria continuação da série. "Ultima VII - The Black Gate" dá início a última trilogia da série, em que é apresentado um novo inimigo de Britannia (e outros mundos) chamado "The Guardian". 

Caixa do jogo.
Aqui a história se passa novamente em Britannia, mas dessa vez de uma maneira muito mais sombria. Na abertura, o Avatar está em sua casa jogando nada menos que o próprio jogo (Richard Garriott quebrando a quarta barreira aqui na moral) quando uma figura surge em sua tela e anuncia que Britannia agora possui um novo guardião que tomará conta do mundo e fará com que todos se submetam a ele, incluindo o próprio Avatar! Em seguida, um novo Moongate aparece entre o círculo de pedras de sua casa e, sem exitar, você entra nele e está de volta à boa e velha Britannia.

Realmente muito mudou de um jogo para o outro. Logo de cara, percebe-se que a engine foi refeita e melhorada. A câmera do jogo continua em perspectiva, olhando do alto e podendo observar aos arredores, porém não tão limitado como na versão anterior. Melhor que os gráficos, são os novos menus e opções de diálogo, que agora fluem mais naturalmente com as opções da conversa já destacadas.

Como todo Ultima, a história já começa com algum acontecimento. Na versão anterior, Avatar foi resgatado por seus amigos quando estava prestes a ser sacrificado por Gárgulas e, ao cruzar pelo Moongate até Lord British, é travada uma briga com alguns gárgulas que os seguiram.

Aqui não há combate logo de inicio, porém você já começa em uma cena de um crime bastante chocante. Um ferreiro foi encontrado morto em um estábulo junto de seu assistente gárgula. Porém ele não foi morto de maneira normal, mas sim esquartejado e com algumas velas em sua volta. Realmente a pegada aqui é mais pesada e gráfica, com um mistério que você deve investigar até o fim do jogo e tentar entender o que houve em Britannia em sua ausência.

O assassinato do Ferreiro e seu assistente Gárgula
Ultima VII tem sido pra mim um dos jogos mais legais e divertidos de se jogar. Mesmo tendo zerado apenas uma vez, não canso de começar um save novo e relembrar de todos os mistérios e aventuras que esse jogo proporciona. Seguindo a linha do Ultima VI, aqui também temos um mundo aberto que nos permite ir aonde quisermos e explorar todas as regiões e cidades. Com a nova engine e novas mecânicas, tudo se torna mais divertido e mais difícil! 



Uma das mudanças mais legais e criativas foram as interfaces do inventário. Quando você está explorando, você se depara com diversos baús, barris, bolsas, etc, e aqui temos uma "imersão" bem grande quanto a isso. Ao abrir qualquer um desses objetos, uma interface referente a ele aparece e mostra seu conteúdo. Sua mochila também segue esse modelo e permite com que você organize suas coisas de maneira mais visual e eficiente, seguindo as regras de força/peso que permitem você carregar mais coisas. Tal conceito foi copiado e utilizado em diversos outros jogos.




A trilha sonora também ficou muito boa e mais complexa, mas não fugindo muito do som "midi" padrão dos jogos da época. 

Um dos aspectos que mais me chamaram a atenção quando joguei novamente após vários anos, é o conceito aplicado na história referente à religiões. Em Ultima VII, Britannia está enfrentando um tempo de mudanças. Um grupo de pessoas conhecidas como "The Fellowship" se instalou em todas as cidades pregando novos conceitos diferentes dos que já são conhecidos e aplicados nas sociedades de Britannia. A Irmandade (traduzindo literalmente) prega uma Tríade de Valores conhecidas como:

1. Strive for Unity (Lute pela União)
2. Trust Thy Brother (Confie em Vosso Irmão)
3. Worthiness Precedes Reward (Merecimento Precede à Recompensa)

Todo seguidor da Irmandade deve seguir esses valores para ser aceito na nova seita que se espalhou por todas as cidades, tendo uma filial em cada uma. Criada pelo druída Batlin, a Irmandade começou a dominar a mente de todos os habitantes e se tornando cada vez mais forte, chegando até a começar a superar os valores das oito virtudes.

Durante a trama você tenta desvendar o assassinato do ferreiro em Trinsic, e sua jornada o leva a todos os cantos do mundo onde mais assassinatos semelhantes vão ocorrendo. A única pista que você tem? Todos os mortos eram contra a Irmandade. Estranho, não?

Ultima VII é considerado até hoje um dos melhores (se não o melhor) jogos da série. Não apenas pela trama, mas também pela excelente jogabilidade e qualidade. Tal sucesso foi tanto que o jogo teve uma continuação e expansões. Talvez um dos primeiros jogos da época a contar com um conjunto de expansão que adiciona novos conteúdos ao jogo sem interferir na história original.



Em "The Black Gate" foi lançado a expansão "The Forge of Virtue" que adiciona uma ilha a mais ao mundo e uma trama que envolve um demônio aprisionado em um espelho e seu desejo de sair de lá. Tal espelho encontra-se na Ilha do Fogo, local onde Avatar derrotou o monstro Exodus em Ultima III. Ao chegar na ilha você deve resolver uma série de puzzles que resultam em uma espada única e muito semelhante à Stormbringer da série de livros de Elric de Melniboné. Talvez seja uma referência direta ou indireta, mas tal espada se torna um dos objetos mais legais da série.



Para não dar spoilers, o fim do jogo dá a entender que há mais a ser feito, e que um grande inimigo conseguiu fugir e está indo para as Serpent Isles. Você deve seguí-lo e tentar impedir que este inimigo consiga reunir forças para voltar. E é essa a trama da segunda parte de Ultima VII, que ficará para outro post.

Existe também uma versão para Super Nintendo, porém esta não vale nem a pena comentar muito. Tudo o que a versão para PC tinha de bom, eles tiraram para a versão de console. Ao invés de manter a alma da série, transformaram esse excelente RPG em um action/aventura sem sentido que corta toda a harmonia da história e a jogabilidade. Não cheguei a jogar muito pois logo de cara achei uma porcaria, mas nessa versão você controla apenas o Avatar e não consegue recrutar outros seguidores. Muitas coisas foram censuradas, como os assassinatos, e filtrados de maneira mais "family-friendly", o que deixa o jogo com uma cara mais feia ainda. Talvez a única finidade dessa versão seja para fins de colecionador, pois como jogo/adaptação realmente deixou MUITO a desejar. 


Notem a diferença na interface. Aqui você viaja sozinho e tem que juntar ouro e chaves para resolver os mistérios :|

Como Ultima VII se trata de um jogo antigo e muito popular, obviamente que os fãs criaram uma ferramenta que permite jogarmos essa relíquia nos computadores de hoje em dia. E não estou falando do DosBox, mas sim do Exult, uma ferramenta que atualiza os jogos com novas funções e também permite rodar os jogos tranquilamente nos PCs modernos, desde que você possua os jogos em seu computador, é claro.

Com o Exult é possível aumentar a resolução do jogo, que no original era jogado em 640x480, permitindo até a resolução dos monitores atuais. Com isso é possível aumentar o campo de visão o que deixa o jogo muito mais bonito e legal de jogar, porém podendo causar um bug ou outro. Em Ultima VII você pode interagir com qualquer coisa que esteja em seu campo de visão. Como o jogo foi projetado para resoluções baixas, você não deveria conseguir ver tão longe. Em resoluções altas é possível enxergar além dos limites pré-estabelecidos antigamente, o que permite com que você fale com NPCs que antes não eram visíveis ou mova/interaja com objetos mais longes. Alguns consideram as resoluções altas como trapaça, mas pessoalmente eu prefiro jogar assim pois permite com que eu veja melhor o cenário.
Com uma resolução alta é possível ver muito além.
Uma adição muito legal do Exult, é que ele permite com que você use algumas features de Serpent Isle no Black Gate. Por exemplo, em Serpent Isle os "paperdolls" dos personagens mudam de acordo com as armaduras e equipamentos que você coloca nele, mostrando como ele ficaria ao usar tais itens. Em Black Gate você tem uma imagem padrão do personagem e algumas linhas indicando onde posicionar os itens, não alterando a imagem do personagem. Com o exult você consegue usar essa feature em ambos os jogos. Também é criado alguns atalhos interessantes. Na versão original você deve procurar pelas chaves em sua mochila para abrir as portas. Com o Exult você pode simplesmente apertar a letra K e o programa tentará todas as possibilidades de chaves para você sem que você tenha que procurar entre mochilas e sacolas.

São muitas as vantagens de se usar o Exult, que é recomendadíssimo para quem quiser testar o Ultima VII em suas versões. Existem também diversos mods que foram feitos que permitem visualizar o jogo da mesma maneira que os jogos da série Ultima Online, ou então em 3D ou outros formatos. Alguns mods nunca foram finalizados, portanto fica mais difícil de encontrar versões "estáveis".

Posso ter falado bastante, mas ainda sinto que não falei o suficiente sobre esse grande jogo. Talvez o melhor já feito por Richard Garriott, talvez um dos melhores RPGs já criados e que infelizmente não é tão conhecido assim mundialmente. Mas tudo bem.

Em outro post falarei mais sobre a segunda parte!

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