Quadrinho - The Ring of the Nibelung

Acho que desde que ganhei o quadrinho "Os Caçadores de Sonho" da minha namorada, fiquei interessado na arte de P. Craig Russell. Fazia muito tempo que eu não tinha contato com quadrinhos, apesar de ter comprado um ou outro antes disso (mas acabei não lendo na época). Já que ela adora Sandman e obras do Neil Gaiman, resolvi então ler e conhecer mais sobre quadrinhos.




Foi então que descobri que quadrinhos podem sim ser fantásticos e muito mais divertidos do que eu imaginava. E foi a arte de Russell e a história de Gaiman que me convenceu que não são necessariamente apenas super heróis combatendo grandes vilões.

Mas talvez tenha sido o envolvimento de Russell com a saga de Elric que fez com que eu me interessasse definitivamente por suas criações. Durante suas interpretações do mundo fantástico de Moorcock, Russell ainda mostrava um traço mais abstrato, com muita "viagem" e cores fortes. Porém com o tempo seu traço foi ficando mais refinado, como podemos ver em seus trabalhos mais recentes.




Desde então, me tornei fã de carteirinha das obras da Vertigo, além de ter conhecido diversas obras sensacionais de outras editoras. E em minha eterna busca por quadrinhos diferentes, acabei me deparando com essa obra prima chamada "The Ring of the Nibelung", também conhecida em português como "O Anel de Nibelung", lançada pela Dark Horse.

O nome não é estranho, afinal essa é uma obra escrita por Wagner, grande compositor clássico, que originou diversas obras referentes a sua, ópera, sendo filmes, livros, quadrinhos, etc. E desta vez foi P. Craig Russell quem resolveu adaptar a história.

Lançada pela Dark Horse nos EUA entre 2000 e 2001, a edição que tive a sorte de adquirir é o compilado de 14 quadrinhos, resultando em um enorme livro de mais de 400 páginas e em acabamento de luxo. Talvez uma das aquisições mais bonitas e visualmente trabalhadas que possuo atualmente na coleção (fato curioso é que eu ganhei este quadrinho da minha namorada, assim como o Caçadores de Sonhos que deu início ao meu novo "vício"). A série é dividida em quatro partes, cada uma focando a história em personagens e acontecimentos importantes:



- Livro um, Rhinegold - Conta a história por trás da pedra mágica que mais tarde se torna o Anel forjado por Alberich. Aqui também é contada a origem do mundo, com Yggdrasil sendo plantada e Odin tratando com gigantes sobre a criação de Valhalla.
- Livro dois, Valkyrie - Sobre a origem das valquírias, as dúvidas e conflitos de Odin sobre um casal de heróis e a origem de Siegfried.
- Livro três, Siegfried - Criação e ascenção do herói e protagonista da história e seu envolvimento com a valquíria
- Livro quatro, Gotterdammerung - Conflito final.

A obra foi lançada em diversos formatos. Primeiramente em 14 volumes separados, dividos nos capítulos acima, mas também em dois encadernados, uma versão capa dura com a saga inteira (a que eu tenho) e uma edição limitada autografada e em capa de couro (apenas 500 unidades foram feitas!). Ainda existe também uma miniatura no estilo dos globos de neve lançada para homenagear a série, mostrando as três sereias que guardam a pedra Rhinegold.

Durante toda a obra eu fiquei impressionado com tamanha qualidade na arte e escrita, sendo muito fiel a obra original de Wagner e mantendo diálogos extremamente poetizados. Era realmente como se eu estivesse assistindo uma ópera ou peça de teatro, ou lendo um romance antigo em que todas as falas e ações dos personagens são bastante dramatizadas. Não que isso seja ruim, claro.

As expressões de sentimentos dos personagens é mais evidente dessa forma, e podemos acompanhar o ritmo e evolução da história com mais facilidade. A trama é um prato cheio para quem é fã da cultura nórdica, já que Odin, chamado aqui de Woton\Voton\Wotan, entre outros nomes, desempenha um papel importante no desenrolar dos eventos.

Valhalla está em perigo pois a imortalidade dos deuses está em risco. Odin contratou dois gigantes para construir seu maginifico reino, conhecido como Valhalla. Mas como troca, ele prometeu dar aos gigantes algo que lhe custaria caro, a deusa Freya, responsável pelo cultivo das maçãs douradas que mantêm a imortalidade dos deuses. Sem suas maçãs, os deuses definharão aos poucos. Sabendo do risco, Odin faz com que Loki, aqui chamado de Loge, cuide do contrato para que ele possa enganar os gigantes e manter Freya entre os deuses. Porém quando Loki aparece para resolver o contrato com os gigantes, ele informa Odin que não conseguiu encontrar uma alternativa para os gigantes, mas ouviu dizer que um anão forjou um anel e tesouros incríveis e um anel mágico, o que chama a atenção dos gigantes.


Tudo é representado de maneira poética, com Loki sendo representado como um deus de fogo, diferente da imagem que temos dele atualmente. Thor está lá também, em uma versão mais "barbárica" do que estamos acostumados, porém sem grande participação na história. Mas as personalidades fortes dos deuses que conhecemos ainda se mantém fiel, e Loki ainda é um belo "truqueiro" e consegue auxiliar Odin contra os gigantes. Ah, mas esse é só o começo!

O mais legal foi começar a reparar em certos detalhes que lembravam bastante uma série muito conhecida. Vamos ver:

My precious?
- Um anel é forjado com um material precioso e muito poderoso. Quem usar esse anel poderá controlar o mundo.
- O ser que criou o anel é um anão recluso, magro, cinzento e extremamente obcecado por sua criação.
- Após perder seu anel, o anão então amaldiçoa quem o possuir, trazendo desgraça e inveja a quem usar o anel até que chegue ao seu verdadeiro dono.
- Um dragão (Fafnir) se apodera de todo ouro dos anões e dorme em cima dele, protegendo-o.

Acho que não preciso citar mais, não é?

Não acho que seja impossível que a obra de Wagner tenha sido uma grande influência para Tolkien ao escrever a lendária saga do Senhor dos Aneis. Afinal, Tolkien era um grande admirador da cultura nórdica e diversos elementos de suas histórias foram inspiradas nela. Mas como eu nunca havia lido ou pesquisado sobre o Anel de Nibelung, ao ver essas similaridades no quadrinho não pude deixar de comparar.

"The Ring of the Nibelung" é uma obra de arte. Não apenas por ser uma adaptação de uma ópera clássica de Wagner, mas pela forma que foi executada com tanta maestria. P. Craig Russell com certeza se excedeu e conseguiu criar uma de suas mais belas obras. Acredito que "The Ring of the Nibelung" seja uma continuação das adaptações de óperas que Russell já vem fazendo desde o final dos anos 80. Ele já adaptou alguns clássicos como "A Flauta Mágica", "Salomé", "I, Plagiacci", entre outros.

A incrível saga de Wagner é uma leitura obrigatória para quem é fã de quadrinhos. Quem sabe um dia essa obra prima não chega por aqui em versão traduzida? Eu não aguentei esperar e fui logo atrás da versão completa. Quem tiver interesse pode encontrar essa maravilha nos sites da amazon.com.br ou encomendar pela Livraria Cultura!

Comentários